domingo, 18 de novembro de 2018

Estender a mão


Num dia cinzento sua ausência se fez presente
Eu compreendi que eu era quem estava ausente
O quanto a distância nos transforma em nada
Em um pássaro que voa longe da revoada 

Eu percebi o valor de um gesto, de um abraço 
Para aqueles que vivem sem nada a esperar
Toda vez que senti a magnitude de estender o braço 
Pude aprender o valor daquilo que não se pode pagar

A maioria das conexões não nos levam a nenhum lugar
Não é a estrada que é tortuosa, são nossos passos egoístas
Incapazes de reconhecer outro caminho que possa nos levar
A olhar diferente para os diferentes de forma altruísta

Acorrentados nos vícios e na insistência de péssimas sensações 
De relacionamentos que agridem a capacidade de ver um outro mundo
Livres como animais no zoológico aprisionando as emoções
Ansiando pelo próximo contato virtualmente profundo   

Toda escolha carrega o peso de uma expectativa 
Todo ato de bondade traz uma paz que transborda
O vazio da existência de quem vive sem ter vida
A expectativa sem vida da esperança que não concorda

Que não se possa melhorar sua realidade nas coisas pequenas
Tudo é cíclico, gentileza gera gentileza! Gera reciprocidade 
Isso gera uma grande bola de neve que não se apequena
Da batida das asas de um borboleta até a alheia felicidade 

Toca esse mundo com tanta profundidade e cor
Toca esse coração e a vida faz mais sentido
E a maior revolução dos nossos tempos é o amor
Que irradia e ilumina a estrada de quem está perdido...



quarta-feira, 14 de março de 2018

Travesseiro

Foto Travesseiro


Eu sinto a inveja do seu travesseiro
Na noite escura ele acalma seu sentimento
No pesadelo ele é a luz no meio do nevoeiro
Ele sabe plenamente qual o seu momento

Ele te acompanha todo dia
Ele apoia suas costas e sua cabeça
Apoia também nos seus dias de tristeza
Assiste mudo a sua alegria

Ele é toda noite o seu fiel companheiro
Das suas lastimas o seu fiel escudeiro
Apara suas lágrimas com suavidade
As suas dúvidas traz toda claridade

Ele escuta as suas confissões
Sempre em silêncio sepulcral
Sabe seus amores e ilusões
é um amigo incondicional

Ele sabe todos os seus segredos
Fica angustiado com os seus medos
Te acalma te põe para dormir
E te ver pela manhã sorrir

Ele é tão perfeito
Esse sujeito
Apenas um objeto
Que te faz completo

Quem dera que num disparate qualquer
Eu me transformasse num travesseiro
Num desatino do destino daquela mulher
Um ser que a sentisse por inteiro...


segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018

Sociedade Machista Passiva

Padre Melo e Travesti

Sociedade Machista Passiva

Eu não nasci sabendo o que eu era
Ninguém cura a escolha que já nasceu
Antes de eu trocar a bola pela boneca
A doença que você nega mas já cedeu

Desde quando era violentada
Por querer brincar de casinha
Eu não fui uma criança amada
Eu não queria o que tinha

O espelho era o maior fantasma
De quem vê e não aceita a forma
Que sociedade apenas pasma
Com a hipocrisia que conforma

Você me procura em cada olhar e esquina
Nessa hora eu sou teu amor e tua menina
Em seguida levo um soco e o beijo o chão
De quem julga a capa sem sentir um coração

Eu preciso seguir em frente mesmo sem perspectiva
A sociedade machista no fundo é passiva
Na cortina de fumaça me transforma em aberração
E cada versículo do livro vira uma lição

Uma incitação contra o natural
Um distorção de um débil mental
Que acha que o Deus do amor
Acha travesti um transgressor

Eu precisei fugir várias vezes de mim
Para me encontrar na rota de colisão
De um navio que nunca atraca sem razão
No preconceito daqueles cujo ódio não tem fim...

Professor Pasquale




quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

Automutilação


E hoje não suporto saber que falhei novamente
Como todas as vezes que tentei ir em frente
O sangue espalhado no chão como as flores num caixão
Perseguem o cheiro indolor de uma vida quase em vão

A dor latente de um terremoto na cabeça
Que chacoalha a vida antes que eu me esqueça
Rastejando moribundo escutando o ecoar do sino
Reforçando que ainda há sobrevida no meu destino

Agora a vergonha que mancha a roupa e a alma
A lama vermelha espalhada por todo o banheiro
Cujo farol não inclina em nenhum nevoeiro
Nenhum alvejante é capaz dar a vida e calma

Aquele que experimenta todas as perturbações e fracassos
Deitado sob o gelo do lago com a corda que arrebenta
Beijando o reflexo de alguém sem qualquer tipo de laços
Atados na imersão do cemitério de sentimentos que atormenta

A maçaneta quebrada que não abre a porta de outro mundo
Que permite uma outra chance insuportável de errar
A insistente automutilação que apenas faz machucar
Retardando o fim de um pesadelo tão intenso e profundo.


quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

Roda da vida: Escolher x esconder.

Roda da Vida

Eu tive que escolher caminhar ao invés de esperar
Eu tive que esconder falhar sempre antes de decidir
Não há mais tapete que possa voar nem camuflar
Toda a sujeira e vergonha que escolhemos seguir

Eu tive que escolher deixar ao invés de matar
Eu tive que esconder viver ao invés de ser
Não há mais asfalto para trilhar nem beijar
Toda imposição e escolha que fizemos para viver

Eu tive que escolher viver ao invés de sobreviver
Eu tive que esconder ser digno e não mais implorar
Não há mais migalhas para as formigas sem alimentar
Todo verme usurpa a alma de quem deixa escolher

Eu tive que escolher recomeçar ao invés de persistir
Eu tive que esconder estar mal para poder fingir
Não há mais milagre para contemplar mais ressuscitações
Todo renascimento e morte implica em mais orações

Eu tive que escolher escrever ao invés de engolir
Eu tive que esconder as mágoas ao invés de dramatizar
Não há mais novela para esse nosso pobre nobre horário
Todo tempo perdido é como um peixe fora do aquário

Eu tive que escolher dar a cara ao invés de esconder
Eu tive que esconder a sua partida para não morrer
Não há mais relacionamento para que me deixe enganar
Toda recaída, ilusão e pseudo amor que você tenha a dar...