quarta-feira, 15 de novembro de 2017

Pássaro Solitário


                                                            Pássaro Solitário

E suas últimas palavras se foram naquela curva
Retas e secas: "você precisa ser forte agora"
Não foram os estilhaços de vidros mas a água turva
Espalhando-se na pele como sangue de quem vai embora

As marcas de pneus viram cicatrizes na pista da mente
Estou patinando nas estradas da minha própria lembrança
De um cemitério inteiro de cinzas sem esperança
Daqueles que trouxeram cores no preto-branco da vida

Com olhos bem fechados rezo pros fantasmas irem agora
Ou que possa rapidamente encontra-los na próxima esquina
Ainda escuto a freada, os vidros quebrados e seu corpo fora
Com seu suspiro de quem finalmente conseguiu paz

Eu sabia que era inevitável aquele caminho
Não são os vidros que machucam mas a travessia
Caminhar sozinho no escuro da imensidão do dia
Do dia em que tive que saber que estaria sozinho
 
Como o voo do pássaro solitário
Que bate asas contra o vento
Que alimenta-se do amor primário
Que não se corrói pelo tempo
    
No labirinto da saudade e do pensamento
Eu desejo com um pouco de sorte
Que gratidão seja a estação do momento
Que possa ser finalmente forte..